Monday, October 6, 2008

Tenderness. Protection. Afection.

*Photo by Isidro Dias



O abraço do Gonçalo...


O Gonçalo tem uns olhos inocentes, de um castanho límpido e um rosto de anjo triste.
É morenito, de cabelo crespo e negro, encaracolado.
Gosta de jogar futebol e de pintar.
Tem vergonha de cantar e dançar.
Faz os trabalhos todos com muita dedicação. Tem medo de falhar e esforça-se por me agradar.
Gosta de ser útil. É prestável. Amável. Educado. Carinhoso. Enternecedor. Frágil. Menino. Pequenino. Quase bebé.
O Gonçalo é o menino dos meus olhos, embora eticamente não devesse ter um. Mas é um menino que de tão doce dá vontade de embalar, pegar ao colo, levá-lo para casa e mimá-lo, porque ele merece todo o amor do Mundo – como todas as crianças. Dá vontade de proteger. Precisa ser protegido.
O Gonçalo todas as segundas e quartas-feiras, às 12h, espera que os colegas saiam e fica sozinho na sala de aula comigo. Depois das duas dezenas e meia de “goodbye, teacher!” e de outras tantas dezenas de beijinhos na bochecha da teacher, o Gonçalo chega-se a mim, sempre tímido. Diz-me “goodbye teacher” sem gritar, como os colegas; aproxima-se para me dar também um beijinho na bochecha e, de repente, sempre de repente embora sempre esperado, abraça-me, num abraço forte, terno, que dura longos minutos e a mim me parece durar uma vida, abraça-me como se ali encontrasse todo o carinho e protecção e sem perceber que ele, tão pequenino, naquele abraço protege ele a sua “teacher”, a faz sorrir, a faz esquecer novamente o mundo e lhe dá o maior tesouro do seu dia inteiro... o abraço do Gonçalo.